Queixas da vida

Falo quase todos os dias com pessoas que se “queixam” da vida.
Porque não são felizes, porque não tem dinheiro, porque não gostam do emprego, porque, porque…
No fundo, no fundo, somos todos um pouco assim, nunca estamos satisfeitos com o que temos.
Já tive a oportunidade de trabalhar em regímen de voluntariado cujo objectivo era ajudar aqueles para quem a vida lhes tinha virado as costas.
Convivi mesmo com pessoas que apesar de uma imensurável infelicidade lhes ter batido á porta continuavam e sabe Deus como, a manter um olhar de esperança nas suas vidas.
Eu no lugar delas não sei se seria capaz.
No entanto todos os dias de manhã quando me levanto e me “queixo” da minha vida lembro-me daqueles que nada têm, daqueles a que o destino nada traçou…
Lembro-me especialmente daqueles pais que tem filhos com doenças horríveis e que passam as suas vidas nos hospitais!
Tenho em minha casa um calendário muito especial com serigrafias alusivas a cada mes do ano. Impressionante a mistura de cores, o traço firme, por vezes naíf. Aproximo-me e leio as legendas… “pintado com a boca por..” “ …pintado com os pés por..”
Vejo como sou injusto com essas pessoas pois imagino o que elas dariam para ter a minha vida.
Queixar-me eu ?

Gosto de pensar em ti

Gosto de te ver chegar ao meu pensamento, invadir a minha privacidade e saboreares o que tenho para te dar.
Apuro os meus sentidos pois quero sentir o calor das tuas palavras, o sabor do teu toque o perfume da tua pele.
Fecho os olhos uma vez mais e na fragilidade da minha alma a tua presença domina.
Abraças-me, beijas-me, amas-me….
Recrias todos aqueles momentos que partilhamos, todos aqueles desejos que quisemos cumprir. Vejo na tua face o prazer da entrega entre dois corpos que se necessitam, que se querem.
Neste sonho tão verdadeiro onde apenas tu conheces a entrada deixo-me ficar pois sei que sempre que te chamar estarás sempre perto de mim.

Momentos

Questiono-me varias vezes porque mereci a tua atenção, o teu olhar.
Apenas sei que passamos horas a falar de mil coisas e destas pequenas conversas temos feito os nossos dias melhores. Paramos o mundo quando estamos juntos e ao descobrir-te fico deliciosamente preso aos segredos que contamos, ás palavras que escrevemos e que outros nunca saberão o seu significado.
Paramos o tempo que teimosamente insiste em andar mais depressa do que devia.
Paramos as teclas destas novas canetas pois não têm as letras que expressem aquilo que há muito já sabemos. Mais do que a continuação de ideias, é o prolongamento das nossas emoções que me faz escrever. Sigo o plano traçado pela minha imaginação…
A tua presença alimenta os meus dias mas não sacia a minha fome de ti.
E pego de novo nas palavras. O fogo intenso da tua auréola apaga a minha incredulidade e a linguagem dos corpos encontra o ardor das almas…
E depois, depois… a loucura que toma conta de mim. A distância que vou sentindo, como se me soltasse do meu corpo e observasse a cena que não poderia estar a passar-se comigo…
Mas o teu olhar penetrante desmente a minha incredulidade e são os teus olhos, esses meus velhos conhecidos, que me dizem tudo, que me fazem acreditar que o sonho é real.

Estes são os momentos onde queremos que as noites passem mais depressa para estarmos juntos de dia e onde queremos que os dias passem ainda mais depressa para estarmos juntos de noite.
Sei que a vida constrói-se destes momentos, muitas vezes pouco valorizados mas devemos saber dar valor quando eles nos batem á porta e os deixamos entrar.
Sei também que um dia estes momentos serão diferentes. Mas sabes, eles hoje são nossos e assim poderemos incluir novas páginas neste livro que estamos a escrever sem prefácio nem epílogo.
Só momentos únicos.